
de Luiz Goulart
1
Em êxtase o Mestre,
Discípulos se calam.
Mudos, prosternados
Esperam.
Íntimos pensamentos
Perpassam mundos encantados…
2
O mais jovem arrisca
Rápido olhar
Ao corpo inerte do Senhor.
Nota a palidez da face oriental,
Como se o perfume
Descorasse a flor.
Sente que ele partiu.
Deixou o corpo, somente.
Doloroso vê-lo assim,
Cerrados os lábios
Que discorrem sobre o sem fim
De mundos, de universos
Além da Terra…
Teme perdê-lo.
Em surdina, implora.
Chora silenciosamente,
Pedindo a volta do ancião.
Curva a fronte ao chão.
Deixa cair estrelas de lágrimas
Incontidas…
Eis que retorna,
Do longo caminhar
No Eterno Infinito,
O Mestre, mansamente.
Sussurro de brisa
3
Sobre flores abertas,
Distribuindo pólen de ouro,
Não é mais sutil
Que o despertar do Senhor.
Os discípulos atentos
Pressentem a presença do pensamento
Que fora em asas ao Nirvana.
Abrindo cada qual o par dos olhos
Ávidos de ver,
Descobrem o sorriso do céu
Na máscara serena
Do bendito Senhor.
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Lendo o pergaminho
De cada coração presente,
Diz o Mestre, sorridente:
– Quereis saber, bem sei,
Onde estive… O que vi…
Nada, porém, encontrei
De mais luz no sem-fim
Que se igualasse
À gota de lágrima
Que tu, meu filho,
Choraste por mim.