PAZ E AMOR
Passaram-se décadas e agora analiso a mensagem renovadora dos hippies. Apesar da sombra das provocações trazidas pelo uso do tóxico – como se o mundo e as emoções descontroladas não estivessem de acordo para receber tal mensagem – mesmo assim, é indiscutível que lições fantásticas de despojamento, desprendimento e simplicidade nos trouxeram, mudando hábitos velhos e gastos preconceitos.
O amor nas canções, a paz no sentimento de fraternidade, a adoração profunda do Cristo (Lord), a descontração e não obrigatoriedade de vestes estipuladas para esta ou aquela hora do dia, as camisas leves e coloridas, a necessidade de mudança do trabalho como sinônimo de escravização.
Por essas mensagens cifradas, não bem compreendidas, há uma permanência do Cristo sem dogmas, sem igrejas obrigatórias, sem promessas, sem jejuns. Cristo como Amor, como Eterna Presença, como Amigo entre os amigos, algo em nós que tanto necessitamos encontrar – como um senso poético, uma sensação de felicidade, algo que nos diz "Eu estarei convosco até o final dos tempos ".


ESSENCIALISMO
O SOM INFINITO
Foi Platão (429-347 a. C.) que descobriu, na Música, como desdobramento do Som, um retorno ao Centro da Harmonia. Ele repete o enunciado pitagórico, como muito bem se expressa Filolau (séc.V a. C.), vendo na Música a presença da Ordem ou da Harmonia, quando os contrários encontram a unificação.

Esta unificação dada pela Harmonia é a tentativa de retomo à Unidade Som. Cremos que o Som seria o melhor nome de Deus, como senhor da Vibração. E a Criação é o deslocamento melódico ou da melodia em si que, em saindo do Som, a este retorna em forma circular.

No íntimo e centro da Nebulosa, por exemplo, que deu nascimento ao Sol de nosso Sistema, vibra o Som Infinito. Sua musicalidade tornou-se viável na medida em que se fragmentava em planetas, caixas instrumentais das vibrações que se fizeram Música Espacial. Cremos que todos os planetas têm sua Sinfonia própria, dentro da característica dominante de uma tônica musical. 

Este Som Infinito não só habitou, em nosso caso, o planeta Terra, mas está vivo na caixa de ressonância do corpo humano, trazendo medidas da Criação na Harmonia da Inteligência, na Melodia do Sentimento e no Ritmo do Coração. Parece-nos que o Homem espelha em sua Consciência Superior a Grandeza do Cosmos, mormente no que tange à Harmonia revelada pela Intuição.

Aquele, pois, que logra atingir, pela Concentração, o meio de refletir, em si, o processo da Vida, transforma seu corpo no Instrumento da PAZ.


TRECHOS EXTRAÍDOS DA OBRA
FILOSOFIA E CIÊNCIA DA ÍNDIA

A filosofia budista é um demonstrativo dos valores subjetivos e dos prejuízos advindos da objetividade. – O homem modela seu destino de aflições na medida em que deseja. – Buddha traz uma nova ordem de ideias ao mundo, também no campo social: defende a Fraternidade sem limites de castas e sujeições às escrituras Sagradas.
Buddha apresentou um plano de estudos com base na Intuição (meditação) e Razão (observação da vida. – Buddha foi um dos primeiros democratas da Terra: todos eram iguais e mereciam igual tratamento. Todos eram irmãos, sem obstáculos impostos pelas castas e valores convencionais. – Os ritos, os cerimoniais e as mortificações são inúteis como libertação verdadeira do ser. – Uma das melhores formas de livrar-se dos desejos pessoais está na dedicação e amor ao próximo. – O amor ao semelhante elimina o egoísmo – fonte dos desejos. A alma ilusória, ou caráter, é o resultado de experiências passadas que formam os impulsos do Karma regido pela Lei de Causa e Efeito. – O Nirvâna pode ser conquistado em vida, antes da morte – já que ele é estado de consciência e não aniquilamento.
Porta Aberta

Em termos áureos de Iniciação,
No lugar onde a Paz está presente
Se faz o Templo puro de oração
Ao Supremo Arquiteto onipotente.

Por isso a Porta Aberta é o coração
Que oferta seu Amor a toda gente
Sedenta de encontrar a redenção,
Unindo o sentimento à sua mente.

– A vós que aqui entrastes com carinho,
Os anjos abrem asas liriais,
Amenizando as mágoas do caminho.

Pois junto deles forças divinais
Arrancam de vossa alma o rude espinho
Que empana a luz de rosas imortais.

A Pressa do Velho Monge

Um jovem monge, meditando à beira da estrada sob frondosa árvore, da qual tirava os frutos para seu alimento, viu-se despertado de sua interiorização pela figura do velho monge. E perguntou-lhe:
– Senhor, aonde ides assim apressado?
O monge mais velho, habitualmente calmo, cheio da serenidade que caracteriza os que encontraram a senda, aproximou-se do discípulo e disse:
– Meu filho, agora não terei tempo de satisfazer tua curiosidade, pois talvez um minuto venha a ser fatal à missão que ora conduz meus passos. E, embora já penetrado em muitos e muitos invernos, lá foi o mestre, a passos largos, deixando ao vento a túnica da cor branca-prata de seus cabelos longos e barba leve.

O monge moço levanta-se e colhe um fruto que a árvore generosa lhe oferecia, sem se lembrar ao menos da sombra amiga que também lhe ofertava graciosamente... Após o fruto saboreado, volta à sua mente a imagem do velho monge e, mais ainda, a rapidez com que o ancião fora a caminho da inadiável missão.
As horas da manhã decorrem velozes e já a sombra da árvore marcava o sol a pino, quando o moço vê de volta o ancião que se aproxima. Observa, porém, que seus passos são agora vagarosos. E antes que o jovem perguntasse, fala-lhe o velho:
– Filho querido, a minha pressa não permitiu que te explicasse minha ingente missão. Pois bem, soube eu de uma alma que, após saborear os frutos da Árvore da Sabedoria, tomou-se da sombra do desprezo e apagou no peito a chama da gratidão. Como se não bastasse, afiou o machado da calúnia e desferiu golpes mortais contra a Árvore dadivosa, sem mesmo notar que os lanhos sofridos beijavam de perfume o machado cruel. A minha preocupação, meu filho, foi maior quando pressenti que aquela alma possuída da Ingratidão e da Calúnia poderia gerar um monstro maior: o Remorso – filho da sombra nascido n'alma daquele que esquece o bem recebido e quebra o cântaro que lhe matou a sede tantas vezes.... Por isso fui correndo, correndo... a fim de evitar que o Remorso nascesse. Pois não há poder que arranque o sofrimento produzido pelo encontro da Calúnia com a Ingratidão.

EXTRAÍDO DE “1001 PENSAMENTOS
DE LUIZ GOULART

951. Tenhamos Cristo por modelo, e nossa Consciência por juiz de nossos atos. Ela saberá conversar com o Mestre.
952. Quem é espiritualista, naturalmente há de cultuar a permanência do espírito; é espiritualista não por instantes, à hora de se levantar ou ao deitar-se mas sim para a Eternidade.
953. Cada atitude nossa tem em si a recompensa que lhe é correlata.
954. Se nos imaginamos desamparados, estamos sendo ingratos: é grande a força, o encantamento, a luz de irradiação protetora que nos vem através destes seres resplandecentes. nascidos pela bondade de Deus.
955. Iniciação é sobretudo permanência nos melhores propósitos espirituais. E esta busca da comunhão com a divindade não pode se reduzir a certas horas vagas do dia.

956. As religiões foram feitas para aclarar multidões - mas as multidões não descobriram a luz dentro das religiões. Somente a descobrirão os que se voltarem para o seu interior e buscarem o Mestre Interno, que haverá de lhes ensinar então onde está a Luz das religiões...

Ensinamentos e Confissões
de um Velho Amigo

Transcritos por Luiz Goulart
Tenho a grata oportunidade de tornar públicas as expressivas palavras de um Iniciados no Caminho dos Segredos Espirituais. Respeitei seu texto tal como ele o escreveu, sem ordenação cronológica, sob os inesperados impulsos da memória.

"O que me causa indiferença é tudo que (às vezes, em nome da Arte), assume apenas aspecto técnico, artesanal.
Lembro-me que muitas vezes expondo minhas ideias estéticas a artistas (até mesmo de renome) recebi em troca sorrisos zombeteiros. Alguns, mais francos, diziam-me:
– O que você quer é apenas literatura...
Resposta tosca, evidentemente, pois na Literatura está contida a Poesia envolta de palavras e às vezes de versos. Quantos literatos-poetas despertaram minha hiperestesia! Quantos... Um número considerável, tenho certeza.
Para glória e serenidade de minha alma – que muitas vezes parecia não se adaptar ao mundo – encontrei seres maravilhosos.
Criaturas que eu sentia pertencerem ao mesmo plano astral de meu sentimento. Uma dessas ajudou-me a crer que meu universo extra-sensorial não era um distúrbio de minha consciência.
Até hoje emociono-me ao relembrar aquele Anjo em forma de mulher.... Ocultista e pintora, possuída de fantástica clarividência, unia com naturalidade divina o visível ao invisível no seu modo tímido e poético de relatar os fatos. Sua divindade interior foi, plena de beleza e colorido, transformada na arte pictórica que surgia de suas mãos transparentes. No seu todo físico, logicamente meigo e feminil, lembrava o autorretrato de Rafael Sanzio de Urbino, cujo espírito sempre julguei estar nela reencarnado.
Durante o tempo que convivi com essa notável criatura, além de meu coração irradiar-se de amor, recebi lições valiosíssimas do emprego da cor na pintura. Ela passou para mim as cores da palheta de Tiziano. Herança que adquirira de um velho professor italiano que lhe ensinara quando contava apenas cinco anos. As referidas cores abriram para mim o universo cromático que ainda hoje me extasia.


A PORTA D’ALMA

Eu tenho, neste instante, uma bela gravura diante de meus olhos, talvez tu a conheças... É a figura de Nosso Senhor Jesus, o Cristo, batendo a uma porta. O Mestre, vestido com sua túnica de pureza, traz aos ombros o manto azul, cor de amplidão. Seus dedos transparentes, em contato com a porta, se transformam em raios de luz. Que inspiração maravilhosa teve o artista que pintou esse quadro!
Tu o entendeste em toda a sua significação humana, divina e oculta? Que mensagem notável, não é mesmo?
A porta é tua alma. O toque de luz dos dedos do divino Nazareno são as luzes da inspiração. E assim que sentires que elas penetram em teu íntimo, não deixes mais fechada tua porta, para que sintas a presença tão esperada, há séculos, do sublime senhor de teu destino. Nesse instante verás, entre tu e a amplidão, uma estrada atapetada de flores e de estrelas que levarão teus passos à mansão celestial do Amor, da Paz e da Redenção.
De tal modo tua alma, aberta ao Cristo, se encherá de graças e tão exaltada alegria e crescerás tanto e tanto, em ti mesmo, que sentirás a suave, a doce necessidade de te dares a teu próximo. E depois de teres caminhado com o Mestre até o Infinito pela estrada de luzes e flores sentirás a missão de distribuíres, transformado em serviços de caridade, de amparo e dedicação aos sofredores, todo o Bem que o doce Pastor te ofertou desde o primeiro dia em que bateu à tua porta – à porta de tua alma. Tu entendeste o chamamento e tu compreendeste que a hora é de trabalho e luta, mas suavizados na grande força que ampara, que protege, que ensina – nosso divino Nazareno!
E aquela mesma porta de tua alma que abriste para Jesus, que está agora contigo, deixarás aberta para que ninguém mais precise bater... pois, permanentemente serás o Amor do Cristo transformado em Caridade e Paz para toda a Humanidade.

A SEMENTE INVISÍVEL

Nossa mente é um campo de cultivo; todos os dias semeamos e colhemos. As sementes são os pensamentos. Segundo a espécie de pensamento lançado, colhe-se a substância guardada na semente.Sofremos a dor de nossos próprios pensamentos negativos e nos alegramos na colheita do pensamento de bondade e beleza.
O bom semeador sai, nas estações propícias, espalhando pelos campos as sementes que brotarão e crescerão dentro do tempo oportuno para a colheita. O trigo que nos alimenta o corpo obedece ao ritmo do pensamento da Natureza, relativamente à cultura dos vegetais.

Em nossa mente o plantio e a colheita dos pensamentos são feitos de modo mais rápido. Pois, logo que pensamos, plantamos, no campo vibratório, as sementes que quase imediatamente se transformam em sensações, em emoções que ou nos turbam ou nos pacificam segundo a sua natureza.
Quem se habitua a pensar desfavoravelmente sobre tudo e todos colhe exatamente no sistema nervoso o fruto do que deixou em seu íntimo... O que imaginarmos e mentalizarmos sobre nosso semelhante isso mesmo deixaremos como semente em nosso corpo de emoções.
O mau pensamento é o mais terrível tóxico. Pouco a pouco vai minando a alma, o sistema nervoso e o físico das criaturas. Ele é assim como a semente ruim que cresce, cria força e tudo destrói, tal como acontece com o cipó destruidor que nasce junto ao tronco, tênue e fraquinho como fiapo inútil; ninguém dele se apercebe... Gradativamente, porém, cresce, cria corpo, sobe, prende-se ao tronco da mais hercúlea árvore; depois, sobe-lhe aos galhos, distende seus tentáculos, envolve toda a pobre árvore, suga-lhe a seiva até que a infeliz, já sem folhas, sem frutos, sem ninhos de pássaros, estala seca e inútil ao contato da menor rajada de vento.
Assim é o pensamento. Inversamente, quando bom e cheio de amor, é meigo e revitalizante como a chuva suave e como o sol: faz crescer a alma, fortalece o corpo deixando na árvore da vida as flores, os frutos e o ninho do pássaro de luz que eleva o canto de prece ao senhor dos mundos.


OUTONAL
Ah! Essa idade outonal!...
Longe do Inverno,
Quando as folhas da Árvore
Da Vida
Descobrem os corpos transparentes
De nossos sonhos...

Ah! Que momento lindo!
Sentimos a nudez
Agasalhada apenas
Pelo cansaço sem pudor.

Desejamos, então,
Viver a plenitude da emoção...
Assim, solta assim ao vento,
Como folhas outonais

Que descem desnudando nosso tronco,
Tombando feito um manto
Que nos deixa sentir como nós somos
No interior de nossa liberdade...


A trova é coisa divina.
Muitas vezes uma dor,
Refeita em versos, termina
Ao cantar de um trovador.
* * *
O trovador fica atento,
Buscando as lições da vida.
A base de seu talento
Está nos fatos contida.
* * *
Toda mãe é divindade
Que deu luz a nosso peito:
Oferte-se a esta deidade
Nossa oração de respeito.
* * *
A mulher é a guardiã
Do homem que tem sentimento.
Seja ela amante ou irmã

Balsamiza o sofrimento.
* * *
Apenas a inteligência
Não nos resolve a questão,

Se ela não usa a clemência
Brotada do coração.
* * *
É bom usar nossa mente
Atenta a tudo que surja.
Pois na cabeça indolente
A mente sempre enferruja.
* * *
Para Deus, nosso Senhor,
Tudo lhe é bem semelhante:
O soberbo Imperador
E a formiga rastejante.
* * *
Neste ditame que eu sigo,
O árabe diz com razão:
"Nem todo irmão é amigo,
Mas todo amigo é irmão".
* * *
Se a Obra d'Arte é maltratada
Na praça de uma nação
(E por vândalos pichada),
Morre a civilização.
* * *
Se não fosse a veleidade,
Todo ser constataria,
Do corpo, a fragilidade
E mais humilde seria.
* * *
Enquanto não for contida
A feitura do armamento,
Perder-se-á muita vida
No crime sanguinolento.
* * *
A experiência, tardia,
Se une aos cabelos brancos...
Antes disso, não se via
A armadilha dos barrancos.

Antes do SIM e do NÃO,
Mantenha longo pensar.
Responder de supetão,
Faz muita gente penar.
* * *
Os dias não são iguais.
Que fiquemos preparados
Pra decifrar seus sinais:
Há, neles, sutis recados...
* * *
Creio n'alma, além da Morte.
Ela é flor duma esperança.
Se a Morte, pra Vida, é um corte,
Não mata a luz da lembrança
* * *
Quanto mais só, bem mais calmo
Escuto meu coração,
Como se suave salmo
Vibrasse na solidão.
* * *
Quem procura meditar
Antes do impulso da ação
E mesmo antes de falar,
Sente a paz no coração.
* * *
Nossa razão vive à toa...
Ninguém uma coisa quer
Não porque ela seja boa,
Mas se o desejo a quiser.
* * *
Todo beijo do velhinho
Na fronte de uma criança
É o ocaso do caminho
Beijando o sol da esperança.
* * *
Na arte do bom viver
É preciso ser artista:
Vendo a vida com prazer,
Como faz o epicurista.
* * *
Tudo está em nossa mente:
Não acorde o pessimismo.
Faz o "jogo do contente"
Que desperta o otimismo.
* * *
Não desgaste o pensamento
De face triste, "amarrada".
Ilumine o sofrimento
Ao som duma gargalhada.
* * *
Entre no circo da vida
Onde todos são atores.
Deixe a face colorida
Que apaga todas as dores.
* * *
A marca de muitos anos
Assinala uma virtude:
Replantar, nos desenganos,
A força da juventude