A Perfeita Alegria

“Marta, Marta, andas inquieta e te preocupas com muitas coisas... Entretanto, pouco é necessário, ou mesmo uma só coisa: Maria escolheu a boa parte, e esta não lhe será tirada.” Nessa passagem do Evangelho, Jesus nos faz refletir sobre nós mesmos: de um lado, o controle das coisas do mundo e a fadiga diante dos deveres, cumpridos e cobrados – por outro, o anseio de alimentar-se dessa energia boa, saudável, que vem da Vida, bênção que nos regenera e nos reintegra na perfeita Alegria.
E o que vem a ser essa perfeita Alegria? É a que o mundo (e sua necessidade) não nos pode dar nem tirar... Sabemos que nada é suficiente para a goela disforme do egoísmo; e o que parece ser logo ganha outra nuance por conta do Eterno Movimento, que tudo transforma...
Quem anda muito preocupado e ativo, na exterioridade, gasta muita energia – e fica entupido de excessos duais: aprovar e não aprovar, fazer e não fazer, e assim por diante. Divididos, não ascendemos pela verticalidade do fiel da balança, que nos aponta a melhor parte, a que se refere Jesus. Mas quando, antes de tudo – das ações, das questões do sentimento ou dos questionamentos da razão – abrimos espaço de generosidade para receber o fluido da Vida, então sim – nossa fé, resultado de nossa entrega luminosa, clareia toda a casa e ficamos livres para a Vontade de Deus.
Isso é perfeita Alegria, é o “orar sem cessar” de que nos fala S. Paulo: sentir no correr das horas, na contrição ou na expansão, no tempo de rir ou de prantear, a Vida em nossa respiração, alentando-nos com a vibração de Sua presença santa. “Em todas as circunstâncias, Tua luz é minha Tenda, ó meu Senhor!” – sussurramos baixinho.
Que esta perfeita Alegria, como maior realização espiritual, seja uma bênção do Menino Jesus, nesse Natal, para todos. PAZ E CRISTO! (Lucia Magalhães)


Madre Teresa de Calcutá

(Texto de Lucia Magalhães)

Agnes Gonxhe, de sobrenome Bo-jaxhiu, a mais nova dos três filhos de Nicolau e Rosa, nasceu em Skopje (capital da República da Macedônia) a 26 de agosto de 1910 - e haveria de se tornar a missionária albanesa mais célebre, única mulher que, naturalizada indiana, mereceu o título de Mahatma, por dedicar sua vida aos mais necessitados de socorro para o corpo e de consolação para a alma. Alcançou o que nunca procurou: celebridade, por uma via totalmente singular – esquecendo de si mesma.
Gonxhe ou Gonxha, alguns biógrafos afirmam, era o apelido de Agnes, incorporado ao nome. Quer dizer “flor em botão”, e de fato as pétalas da promessa não puderam vicejar na sua infância: esteve perto da pobreza extrema, após a morte súbita do pai, então envolvido na luta pela independência da Albânia. Sem Nicolau, Rosa passou a prover a família costurando, bordando e vendendo roupas... Esse exemplo materno de coragem e superação marcou a pequena Agnes e fortaleceu sua inclinação para o serviço missionário – já que, desde muito nova, mantinha contatos espontâneos com a espiritualidade. Quando aos 18 anos manifestou o desejo de ir para a Irlanda fazer seus votos com as Irmãs de Nossa Senhora do Loreto, a mãe abençoou seu projeto.
Mas Agnes não permaneceria na Irlanda por muito tempo: logo seguiu para a Índia a serviço das Irmãs, a princípio lecionando no Colégio St. Mary’s High School, para jovenzinhas. Chegou a Calcutá num dia auspicioso – 6 de janeiro de 1929 – e por oito anos renovou seus votos, até assumi-los em caráter definitivo, em 1937, com o nome de Irmã Teresa, em recordação de Terezinha do Menino Jesus. Sentia-se ambientada naquela nova terra e, a par do êxito no magistério, vivia a vocação missionária, desejosa de fazer algo mais...


Certa vez, passando por provações naturais da convivência, precisou viajar para Darjeeling. Lá poderia meditar e praticar melhor seus exercícios espirituais. Era o dia 10 de setembro de 1946 – para ela, “O DIA DA REVELAÇÃO”. No trem-correio passou a noite sem dormir. Vira, na estação e no vagão superlotado, aquele povo necessitado de tudo, sem esperança de misericórdia. Insone, parecia-lhe que milhões de mãos se estendiam, em busca de ajuda... Naqueles olhos, a visão do Mestre sacrificado. Algumas vezes duvidava: seria uma tentação? E rezava... Mas a revelação da sua missão foi imperiosa: deveria dedicar sua vida aos mais pobres e excluídos, deixando o conforto do Colégio da Congregação, em Calcutá.
A licença, dada com relutância por suas superioras, não foi suficiente: D. Périer, o arcebispo, pedia a Roma autorização para que ela desse início ao seu projeto. Finalmente, depois de penosa espera, no dia 2 de abril de 1948 chegou a resposta do Vaticano: estava autorizada a abandonar as Irmãs de Nossa Senhora do Loreto, mantendo-se vinculada à Igreja pelos votos religiosos. Após nove dias da permissão papal, lá estava ela, substituindo o hábito do Loreto por um sári branco de algodão, debruado de azul – veste simples da mulher indiana.
Decidiu-se por um breve curso de enfermagem e prática sanitária em Patna: era urgente preparar-se para o trabalho nas favelas. Em dezembro desse ano de 1948 recebeu cidadania indiana – e passou o Natal, já de novo em Calcutá, com as primeiras crianças que ajudaria a educar e proteger. Membros exaustos, sem casa nem rumo fixo, mais tarde confessaria... “Libertei-me daquele cansaço e abatimento com uma oração que me brotou do fundo d’alma: “Por livre escolha e por amor a Ti, meu Deus, quero permanecer fiel à minha decisão e fazer somente a Tua vontade.” De saúde frágil, conversava pouco e trabalhava muito: era a primeira a se levantar e a última a se recolher.
O certo é que nunca, nem mesmo nas horas mais extremas, lhe faltou ajuda dos céus. Uma família generosa disponibilizou um abrigo para ela e seus meninos – e foi nesse local que recebeu a visita de Shubashini Das, antiga aluna do Colégio. Em breve, com o nome novo de Inês, a jovem haveria de vestir o sári branco – a primeira de muitas que serviriam como MISSIONÁRIAS DA CARIDADE; não teriam mais que dois sáris, um par de sandálias, um crucifixo, uma bacia para lavar-se e uma esteira de palha para descansar algumas horas da noite; veriam, no pobre, o Cristo que tem fome, que tem sede, que está nu e enfermo, e suplica compaixão. No mundo de contrastes encontrariam também uma enorme pobreza afetiva, mental e espiritual, às vezes mais arraigada onde é maior a riqueza de bens materiais. Essa frase do Mestre seria ouvida e meditada no coração: TENHO SEDE... Viveriam pobres, segundo o Smodelo de pobreza franciscana.
Em 7 de outubro de 1950 foi aprovado o estatuto da Congregação das IRMÃS MISSIONÁRIAS DA CARIDADE e já em 1952 estava instituído o”Sishi Bavan” ou a “Casa da Esperança”, primeiro lar infantil onde os pequeninos estudavam e tinham carinho, alimentação, noções de higiene e mãos preparadas para oficinas... Era o começo de uma pe-quena comunidade: as vocações aumentavam e as Irmãs, pe-dindo nas ruas, auxiliavam os mais necessitados. Não podendo remediar tudo, tentavam remediar o que podiam. Madre Teresa afirmava: ”São pequenas coisas as que realizamos; ajudamos as crianças, visitamos os abandonados, enfermos e solitários.”


Em pouco surgiria outro abrigo, em Kalighat - o “Nirmal Hriday” ou a “Casa do Moribundo”, pois para a Madre “há necessidades urgentes que não permitem demoras... Podem os planejamentos e as tecnocracias ter aplicação em muito campos: no do amor, não.” Esse albergue para peregrinos foi montado em antigas dependências de um templo de Kali – e, para os shivaístas, essa aproximação cristã quase parecia uma profanação. No entanto, Madre Teresa soube conviver com as diversas culturas: maometana, hinduísta, budista... Com o passar do tempo, compreenderam a nobreza de sua obra – e ela recebeu ajuda e inúmeros donativos, não só de núcleos religiosos como laicos. Como costumava dizer: ”... não tem a menor importância a fé que professam ou deixam de professar as pessoas que nos ajudam ou são por nós assistidas. Nosso critério de ajuda é o da necessidade. Todos são Corpo de Cristo, todos são Cristo sob aparência de seres humanos.. Não poderíamos achar dignidade mais sublime! O nosso objetivo não é convertê-los ao cristianismo, mas desejamos que encontrem Deus... É a fé em Deus que nos salva.”
Mais de uma década depois, em 1965, a Santa Sé aprovou a fundação das IRMÃS MISSIONÁRIAS DA CARIDADE, hoje atuantes em quase todas as partes do Planeta. Muito desse reconhecimento se deve ao jornalista Malcolm Muggeridge, que divulgou o trabalho da religiosa indiana e suas Irmãs. Inúmeros prêmios nacionais e internacionais foram conferidos à humilde serva de Cristo – como a medalha “Senhor do Lótus”, oferecida pelo governo indiano, em 1963, o prêmio “Templeton”, em 1973, o “João XXIII” (aos pacifica-dores) em 1976 e finalmente o “Nobel da Paz”, em 1979.
“Comecem com pouco, de maneira simples”– dissera Madre Teresa ao grupo nascente de colaboradores em Chicago – “não se preocupem com os resultados ou os números; todo gesto de amor em favor dos marginalizados e dos pobres, por menor que seja, é importante para Jesus... Mesmo que não houvesse mais que um, esse é Cristo. É Cristo que tem fome de amor e de cuidados.” Sobretudo, Madre Teresa lembrava às Missionárias que elas não eram simples organizadoras do esforço alheio em benefício dos pobres (para serem vistos pe-los outros). Pelo regulamento que professavam, teriam elas mesmas que arregaçar mangas, lavar um corpo sujo, fazer curativos – era compromisso pessoal. Aqui lembramos da Comunidade para Leprosos que ela ajudou a fundar.
Madre Teresa de Calcutá morreu aos 87 anos, quando preparava um serviço religioso em memória da princesa Diana de Gales, sua grande amiga, recém-falecida em um acidente. Era o dia 5 de setembro de 1997. Seu corpo, sob comoção geral, foi conduzido sobre a mesma carreta que carregara os corpos de Gandhi e de Nehru – e muitos foram os representantes do mundo que estiveram presentes para a última homenagem à “São Vicente de Paula da Índia”– aquela que trouxe ao mundo o exemplo da prática do amor do Cristo, tão simplesmente...

PALAVRAS DE MADRE TERESA DE CALCUTÁ

Quando descanso? Descanso no Amor.
O senhor não daria banho num leproso nem por um milhão de dólares? Eu também não. Só por amor se pode dar banho num leproso.
Palavras de amizade e de conforto podem ser curtas e sucintas: mas seu eco é infindável.
Sem uma forte dose de vida espiritual não pode-ríamos levar adiante o nosso trabalho.Temos necessidade de encontrar Deus, e Deus não pode ser encontrado no barulho. Deus é amigo do silêncio.
Nunca nos sobra nada, mas jamais nos faltou o necessário. Às vezes as coisas acontecem de maneira estranha, quase milagrosa. Amanhecemos sem recurso, com angústia de não podermos atender os nossos assistidos. Eis que nos chegam provisões, as mais inesperadas, muitas vezes de doadores anônimos – gente que tem uma religião ou que não tem nenhuma. De ricos e pobres.
Nosso trabalho, em si mesmo, não é um trabalho importante... É o mais humilde que existe. Mas pensamos que seu valor está no espírito de Amor que o anima. Não é possível amar a Deus sem amar o próximo.
Hoje, uma vez mais, Jesus vem aos seus, e os seus não o reconhecem... Vem nos corpos feridos de nossos pobres. Vem até mesmo nos ricos mergulhados nas riquezas. Vem na solidão de seus corações, quando não há ninguém que os ame. Jesus vem a você e a mim – e com muita frequência deixamos que Ele passe, sem lhe dar importância.
Há pessoas que sonham pelo amável som de uma voz humana.
Cristo está hoje presente nas pessoas indesejáveis, que não têm emprego, que não recebem atenção nem cuidado; seremos julgados pelo amor que lhes tivermos demonstrado.
Não penso nunca em termos de multidão, mas de pessoa. Se pensasse em multidões, não começaria nunca. O que importa é a pessoa. Creio no encontro de pessoa a pessoa.

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Pense Nisso

Depende de mim: O que temos é todo esse momento que chega, como o dia que acorda nossos olhos. Imagino flores quando o dia nasce, marcando a espera dos fatos que estão prontos para acontecer, não importando a minha dúvida ou a minha certeza. Uma coisa, porém, depende de mim: Aprendi também a esperar a noite para nela penetrar sonhando, deixando livre o exercício de meu coração. O meu amor espreguiça em mim, no leito da vida, forrado de noite, e eu adormeço, silenciosamente.(Luiz Goulart)
Quem procura o bem do corpo, ou da alma, em padrões mercenários, não descobriu ainda a luz do Espírito.
Pelo Amor, descobriremos que o fiel da balança da existência está na certeza de que, como diz acertadamente o povo – “não há bem que sempre dure... nem mal que nunca termine...”

O poder do tempo: Quando o sábio Gautama, o Buddha, afirmava sofrer a criatura na medida de seus desejos, certamente tinha a grandeza de sua alma voltada para a plena libertação que pode conseguir o Homem através do desprendimento do mundo materializado. Na verdade, todas as dores morais nascem do desejo, seja este conhecido ou inconsciente pela limitação perceptiva. É constatável, porém, que a atenção dada ao objeto do sofrimento sempre aumenta e aguça o poderio do martírio, não só no físico, mas principalmente no sentido moral. A misericórdia se manifesta no suave e bondoso Tempo – que atenua todas as dores, certamente pelo poder da manifestação de novos fatos e distrações que sabiamente ele traz à nossa Alma.
O mérito: Não há maior elevação de sabedoria do que a dos humildes. Portadores das maiores mensagens, das mais deslumbrantes jóias de luz e pensamento, quer no mundo das artes, das ciências, das religiões – até mesmo engrandecidos por seus semelhantes – eles transferem todos os méritos e louvores ao Senhor Supremo da Vida, dos homens e dos Universos.
Igualdade: Para Deus, não há morte nem vida – existe transformação.
Para Deus não há minha vida, minha morte, minha dor, minha sabedoria. Ele não participa isoladamente, como deseja o egoísmo de cada criatura.
Para Deus existem leis certas e firmes, das quais todos igualmente participam, no afã do progredir.
Deus é um só cérebro e um só coração para todos os seres – não está condicionado à Vida nem à Morte – Deus é Eternidade. (Luiz Goulart)

Essência Imortal

Busca a presença
Do Infinito Amor.
Não penses na Existência
Como o meio,
No nascimento como início
Nem na morte como o fim.
Tu não és, em tua Essência,
Apenas o momento que passa,
Que finda numa pobre geração.
És, essencialmente, parte da continuidade
Que corre como um fluido oculto
Em tudo que não se manifesta.
Mas que existe em planos infinitos,
Que não constatas
Mediante os sentimentos humanos.
Acredita-te como possuidor
De uma Fagulha Eterna.
De uma Consciência Universal
E de uma Mente Cósmica.
Mergulha em ti
E ouve a Divindade.
Sua voz é feita de Silêncio.
Mas teu EU a escuta plenamente.
Não delimites teu sonho
Ao finito do que acontece no mundo.
Busca o Infinito Amor,
Abrindo as asas da Criação da Força
Que te eleva ao Poder do Cosmos.
Tudo que se circunscreve
Ao campo das limitações
Não aponta a senda do Entendimento.
É dentro de ti,
Na subjetividade de teu ser,
Que te colocas frente a frente
Com a realidade da Vida.
O que se passa na configuração
Dos dias, das dúvidas e emoções,
Não leva à plenitude da Razão.
Para entenderes o roteiro da Verdade,
Busca o centro da Eternidade
Em teu próprio ser, no EU
Que sintetiza todo o esplendor.
A Eternidade
Fala a linguagem dos Símbolos,
Mas tua Mente a decifra
E expõe o mistério da Vida...
Tu a sentes presente em ti
No Infinito Amor
Que te eleva à Verdade,
Além dos limites humanos.
E só assim traduzirás
A mensagem de Deus,
Não apenas nas malhas da crença –
Mas na integração
De tua existência na Vida
Que está oculta e eterna
Na pedra, na planta, no animal...
A mesma que está em ti.
Então descobrirás
Que Deus tem seu Corpo
Em toda a Natureza,
Sua Alma, na Vida
Que anima o Todo
E que Deus é o Infinito Amor:
Ele eterniza a Essência Imortal
E se sobrepõe à Morte.
És, por isso, infinitamente eterno!

(Luiz Goulart)

PARA SUA MEDITAÇÃO
Está em cada um de nós, que temos nossos problemas humanos resolvidos, pensar ativamente na melhor maneira de solucionar a angústia alheia, quer dizer, a nossa – porque é a angústia de nossa espécie.
Meu irmão, minha irmã, não há raças separadas – há apenas a Humanidade, num só esforço estupendo! Sofrendo, amando, vivendo em busca da perfeição!
Constatamos a alegria e sentimos os momentos das amargas provações. A Fé, porém, nos coloca num ponto superior que culmina com a cessação dos opostos.
O homem sempre dependerá de seu semelhante, como todos os homens dependem da Natureza. A Natureza depende de todo o Universo.
De nada adianta o desejo repentino de mudança de amigos, de paisagens, de casas, de religiões, de tudo enfim... sem que te compenetres da necessidade da reforma interior de sentir as pessoas e os lugares.
Nenhum mal parte de nosso íntimo, sem deixar raízes em nosso próprio coração.
Os julgamentos são nuvens que condenam ou absolvem as nuvens aparentes dos fatos... nuvens que
passam... ou que, às vezes, descem como chuva de lágrimas!
Não te preocupes tanto em ser o vencedor do mundo – mas o herói de ti mesmo.

EM ESPÍRITO E VERDADE
Verdadeiramente, o corpo do Mestre Jesus foi modelado como o mais belo e perfeito Templo do Universo...Verbo que, revestido das imagens do Evangelho, transmitia a todos os templos vivos – ou corpos das criaturas – o enunciado divino que a alma de cada um podia ouvir no silêncio do templo interior.
Formado das partículas da Natureza, nosso corpo é meio de transmitir e receber as ondas de vibrações que vão e vêm, perpassando através de nossos sentidos. Quando fechamos as janelas da atenção para o ruído exterior, nossa razão – sublimada através da prece ou da oração – conversa secretamente, em profundo silêncio, com a Chama Criadora do Universo.
Presente Deus no santuário de cada coração, acendamos a lâmpada sagrada da fé, no respeito à vida íntima que vibra no interior de cada criatura... E assim, seguindo os ditames do Mestre, ressuscitaremos da treva da ignorância para a reedificação espiritual de nossa consciência.
Vencedores de nós mesmos, contemplaremos então a Eternidade como a música santificada que se evola para o Infinito; como o pensamento de Amor que parte, leve, qual fumaça de incenso, para a morada da Luz Eterna... Templo da Amplidão, que cobre todos os pequeninos templos do coração de cada criatura. Por isso disse Jesus: “Virá a hora, e é esta, em que os verdadeiros fiéis hão de adorar o Pai em Espírito e Verdade.”

Não critiques ninguém quanto à religião; que cada um siga o desejo espiritual de sua alma. Não ajas
como certas criaturas que se julgam só elas salvas pela fé que professam, achando indignos e perdidos todos os seguidores de outras crenças... Esta é uma concepção que se compara à da Idade Média.
Sacode o pó do jugo mental. Sê livre como o sábio Bahá´u´lláh, que sofreu a perseguição dos tiranos
fanáticos – para unir todos os religiosos no abraço de indissolúvel Amor Fraternal. Desliga-te, isto sim, dos que fazem das doutrinas universais, chicotes contra as seitas adversas. Não vês o que fizeram de Jesus e de outros Mensageiros do Altíssimo, no Líbano? Pois bem, tudo culpa da ignorância e do isolacionismo “salvador”. “Quem não segue minha fé” – disse um louco dirigente – “merece o fogo e
a morte”.
Lembra-te do que aprendeste: “Não há religião superior à Verdade.” E faz parte desta Verdade a própria busca do Amor que está presente em teu próprio coração. Entra em todos os templos. Se levares o Amor e a Verdade, iluminarás até os que cultivam o ódio e a desunião. Não te julgues porém superior a ninguém. Ris e choras como todos os mortais. O mais é ilusão. O fim de todos está nas mãos de Deus.

Em termos áureos de Iniciação,
No lugar onde a Paz está presente
Se faz o Templo puro de oração
Ao Supremo Arquiteto onipresente.

Por isso a Porta aberta e o coração
Ofertam seu amor a toda gente
Sedenta de encontrar a redenção,
Que une o sentimento à luz da mente.

A vós que aqui entrastes com carinho,
Os Anjos abrem asas liriais,
Amenizando as mágoas do caminho.

Pois junto deles, forças divinais
Arrancam de vossa alma o rude espinho
Que empana a luz de rosas imortais.


Humanamente
Sou uma criatura humana.
Homem que sente,
Que ri.
Que chora e ama.
Não fujas de mim.
Nem exijas de minha alma
A perfeição.
Se eu fosse um Anjo transparente,
Como poderias encostar
Tua fronte em meu peito
E chorar,
Encontrando palavras claras
À tua razão?
Olha, em mim, teu amigo
Feito de pó e pranto...
E nos abraçaremos,
Cheios de terra,
Quando a tempestade
Chegar...

(Luiz Goulart)
Uma Escola de Iniciação (Luiz Goulart)
Corrente da Paz Universal é, mais que uma instituição, uma Escola de Iniciação. Por isto não nos gabamos de sermos mestres, gurus ou seres superiores, só porque estamos
ligados a seus ensinamentos. Pelo contrário, vemo-nos como seres humanos e falíveis.
Daí desejarmos aprender as sábias lições apresentadas pelos Grandes Mestres. Ao mantermos abertas ao público nossas palestras, sempre apresentamos a fragilidade do ser humano e a necessidade do aprendizado exposto. Somos, por isto, expositores e não mestres. Aí está a causa que nos faz lembrar que é mais útil nos reconhecermos perfeitos do que exigirmos a perfeição de nosso próximo.
Esta é a razão por que, cedo ou tarde, quem convive com a Corrente da Paz há de sentir o quanto ela é natural e simples. Basta para tanto, que cada irmão observe suas próprias imperfeições e cultive a reflexão que o conduza ao autoaprimoramento, colaborando assim com a harmonia e a felicidade da nossa Família Humanidade.
Trovas
Ao ocorrer-nos a imagem
Do Amigo na Eternidade,
Faz-se em nós um misto estranho
De ternura e de saudade...

Todo beijo do velhinho
Na fronte de uma criança
É o ocaso do caminho
Beijando o sol da esperança.

O Porvir está fechado
No livro de nossa vida.
Só na folha do Presente
Nossa sina é compreendida.

Quem pensa que à criancinha
Somente o pão lhe convém,
Não sabe a sede de afeto
Que toda criança tem.

(L. G.)