Quantas vezes, na solidão de nós mesmos, perguntamos o significado de nossa própria vida? Parece-nos tudo um imenso vazio em torno, transformando-nos interiormente num simples galho lançado ao vaivém das ondas do mar sem fim de todos os mistérios e de todas as interrogações. Debilmente erguemos nossa voz, mas nem ao menos o eco do rebatimento. Tudo passa a viver como se a vida e morte estivessem confundidas numa eternidade sem razões e sem propósitos. Carregamos como que o inútil fardo da total descrença… Desencantados de tudo e de todos, resta-nos a longa espera que mais longa se faz por não sabermos, então, verdadeiramente o que esperamos.
Não há uma só alma que não tenha sentido em determinada fase da existência o domínio cruel da mais estranha melancolia…
Há de, por certo, no entanto, chegar pelas mãos de alguém ou nas asas do vento a semente de luz das transformações da noite da alma em dia de doce claridade! Basta que o coração fique atento aos sinais – assim como, no céu, as nuvens demonstram transformações de dias trevosos em despontar de auroras de festa.
Quando vem a Paz? Quando nasce a íntima ventura? Nós nunca, verdadeiramente, sabemos… Nas maiores tristezas, nos mais soturnos abatimentos, pode estar escondida a lágrima que fará brotar a planta divinal que, crescendo em nosso coração, se transformará em brotos de esperança: eles nos oferecerão flores de perfume, como que anunciando a presença do ressurgir de nova vida, onde a morte parecia imperar!
Saber resistir, com paciência, ao desânimo das horas amargas é retemperar a alma para os impulsos necessários à conquista da vitória da Paz Interior, contra a aflição dos instantes de dúvida por que passam todas as criaturas da Terra…
Em dado instante, repentinamente, a solidão pode ainda transformar-se no doce convívio com as luzes de bonançosas alegrias, assim como num céu de nuvens pesadas, surgirão estrelas surgidas na vastidão sem fim.
Há sempre um instante, uma hora certa nascida nos braços do Tempo, para cada coração desesperado. Surge a luz de onde, às vezes, menos se espera. A vida é feita de mistérios, o Destino é cheio de segredos; esperemos confiantes: nos raios do sol que volta todos os dias pode chegar o fim dos martírios e a suprema alegria das horas sem fim da Eternidade!