Não deixes que o sentimento de tristeza domine tua palavra. Pois, desse modo, além de dares curso maior à tua melancolia, serás desumano se retransmitires a teu próximo o gérmen de tuas mágoas. Atenta nisto: sempre justificamos interiormente o teor das palavras que proferimos: se falas de espinhos, estes, igualmente, tu os cravas em tua alma; se dizes uma mentira, mentes a ti mesmo; se dizes uma palavra verdadeira, guardas a Verdade em teu íntimo e nela te fortaleces. Seremos amanhã o que falamos hoje. Somos hoje o que dissemos ontem… As palavras reforçam estados interiores. A palavra é o início da materialização do pensamento. Por isso a tristeza mais corrói o coração que se objetiva em palavras de melancolia.
Quanto ao sentimento de dúvida, a palavra cria, sob este estado, grande confusão em quem ouve e, logicamente, na própria pessoa que fala. Nesse particular, não podemos esquecer o Evangelho: “seja o vosso falar sim, sim; não, não”. Nada na realidade perturba tanto quanto ouvir a pergunta duvidosa de quem indaga: “É hoje ou amanhã?”; “Ele me ama ou me odeia?”; “Vou piorar ou melhorar?”; “Choverá ou não?”
Diga-se, sem medo de errar, que este estado dúbio é o mais comum. A julgar-se pelo debate das dúvidas que, além de serem travadas em terrível duelo emocional, ferem a gume de espada todos os desassossegados que ainda não aprenderam a ouvir com paciência.
O pensar antes de falar é, pois, motivo de equilíbrio interior. Daí dizer o sábio pensador Lao-tsé: “Quem fala não pensa, quem pensa não fala”.
Fonte: Livro – O Caminho da Paz Interior – 1999 / 5ª edição