Resumos das pesquisas realizadas pelo Grupo de Estudos Professor Luiz Goulart em suas obras, na sede da Corrente da Paz Universal, sob a coordenação da professora Lucia Magalhães.
1 – Um dos mais notáveis exemplos do princípio não ativista, emanado da Consciência Superior como a arte de governar, está exposto neste trecho de Confúcio: “Os grandes antigos, quando queriam revelar e propagar as mais altas virtudes, punham seus Estados em ordem. Antes de porem seus Estados em ordem, punho em ordem suas famílias. Antes de porem em ordem suas famílias, punham em ordem a si mesmos.” – O princípio de Harmonia dentro do indivíduo deve ser o porta-voz de sua Autoconsciência junto ao instinto da sociedade; quando somente o pseudo-autor quer governar o instinto coletivo, temos o instinto multiplicado pelo instinto de cada Personalidade, indefinidamente, gerando o Ativismo desenfreado que governa ou desgoverna as massas, desde o passado até nossos dias.
2 – O Inativismo é, portanto, um meio introspectivo de vivência do homem. Quando, em contacto com a sociedade, a criatura não se dá por inteiro, deixa sempre o liame subjetivo que se prende ao íntimo da Torre do Ser, como nos expressamos em “Inação Criadora”. Diminuída a ação instintiva, voltamos mais facilmente à Harmonia, porque encontramos em nós o Centro Subjetivo da Vida.
3 – VIDA é a Energia em plenitude, como noumeno. No homem, ela está presente no Átomo Vital até à emanação da Mente, passando pela Autoconsciência. Anima e faz parte da Individualidade. – EXISTÊNCIA é a Energia já modificada pelo fenômeno. No homem ela poder ser descoberta na ação instintiva racional, até atingir os atos materiais e finitos. Faz parte da Personalidade. – É no Centro Subjetivo da Vida que encontramos Harmonia, a mesma presença do Cosmos, sentida por Jesus quando diz: “Eu e o Pai somos Um”. O Eu Vital alimenta-se da VIDA de seu Átomo Vital.
4 – Nosso Inativismo não é estagnação, niilismo. Energeticamente falando, ele é muito mais ativo que o Ativismo instintivo. Nosso instinto, no entanto, depende da Energia que possuímos subjetivamente. Se eu der Energia a meu instinto, ele é como a tela do cinema, quando acendemos o foco luminoso. Basta, porém, que se apague o foco e logo o instinto desaparece, sem imagem. O jogo do mundo está na seguinte opção: dar ou não dar Energia à ação do homem.
5 – A grandeza do Inativismo é que nele não há a perda da Consciência, mas ao contrário: uma tomada de contas permanente à Consciência. Todos os atos são emanações autoconscientes do Ser, no Inativismo. Cristo e Buda (sem falar em Platão) – são as fontes maiores do Inativismo. O mal é que a Humanidade viu neles meros transmissores religiosos.
6 – Talvez o Ativismo tenha favorecido a devoção religiosa dirigida a Cristo e Buda, para que as populações mais adiantadas não viessem a descobrir uma filosofia contrária ao Ativismo político e dominante das massas. Na verdade, Cristo e Buda são místicos e idealistas: como pensadores, conduzem o homem ao real valor da Individualidade.
7 – A filosofia Inativista, em sua subjetividade, não nos permite colaborar ativamente com este estado de coisas: o homem em sua angústia, julgando verdade o que é mentira, vida o que é morte, felicidade o que é desgraça. A filosofia Inativista quer mostrar ao homem que a felicidade é o estado estético que tangencia a bem-aventurança. Daí o valor que damos à Arte. Jamais a Arte Inativista se degrada, pois não se escraviza aos sistemas de governo, nem se adapta aos padrões de desarmonia social, e muito menos prostitui os cânones harmônicos de sua Origem Vital.
8 – A Arte Pura é a plenitude do Inatismo: a música, meio mais eficaz de recondução do Indivíduo a seu Eu Vital, pode trazer ao homem uma espécie de pleroma gnóstico, desligando-o do Ativismo cotidiano. Especialmente através de certos mantras orientais, da música de Bach e de outros compositores.
9 – Quando se joga com o prazer do mundo, joga-se com a dor universal. Os jogos do mundo são competitivos e engendram sempre os gérmens do ativismo guerreiro. Basta, porém, que a competição surja, para que logo ele se transforme no conflito dor e prazer, penetrando no sorvedouro do instinto guerreiro.
10 – Toda ação excessiva do instinto gera autodestruição. Se o esporte puro estiver sempre sobre a regência do Eu Vital, a vitalidade energética habitará o corpo, pela presença da Harmonia correlata às medidas arquetípicas da Beleza Ideal. O esporte puro substitui, com vantagem, a Hatha-Yoga.
11 – A alegria, somente procurada no lado objetivo e competitivo da existência, é o degrau antecipado da tristeza. Mesmo se descermos à aspereza do instinto, resguardemos as possibilidades de retorno à Torre do Ser. Os sonhos subjetivos, quando objetivados, se transformam em desejos instintivos.
12 – As coisas sonhadas, se ligadas ao instinto, quase sempre nos trazem a decepção do próprio sonho. Tudo porque as coisas sonhadas, em termos de felicidade objetiva, criam ruptura do vínculo com a Autoconsciência. O desejo, então, tenta tornar-se o senhor dirigente de nosso sonho objetivado. E se o desejo chega às raias da emoção, ferimos o Sentimento, desligando-nos da Poesia e do Amor. Só a Arte eterniza o Sonho do homem. A Arte é a transferência do impulso do desejo à realização subjetiva do Sentimento. Daí o arrebatamento que nos causa a Arte.
13 – O homem inativo, em termos filosóficos, não permite a destruição de sua paz interior pelo impulso instintivo do desejo. Envolve-se da Beleza de que nos fala Plotino. A mesma Energia que alimenta o impulso instintivo deve ser aproveitada para maior introspecção. A Energia usada pelo Inativismo é de base criadora e deve reverter ao Ser, para criação permanente de sua felicidade.
14 – A Inação deve produzir a linha que, em saindo do Ser, descreva uma curva; e esta, embora se distanciando do ponto do impulso interior, retornará a sua origem, mediante o movimento dirigido pela Autoconsciência. A reta partida do impulso interior, desligada da Autoconsciência, cai no domínio angustiante do instinto, pela ausência da Intuição… O Instinto é o impulso energético interior que perdeu a Autoconsciência da viagem de volta o Eu Vital. Somente a intuição mantém-nos íntegros com Harmonia interior.
15 – A Humanidade em seu Ativismo tem grande dispêndio de Energia Vital. Preenchida de bravuras guerreiras e instintivas, glorificadoras do instinto animal, muitas vezes usado em nome da Razão. Se observarmos atentamente nossa existência, descobriremos que temos pensamentos, palavras e atos integralmente inúteis, quanto ao campo de nossa felicidade. Malbaratamos instintivamente muita energia preciosa: quanta semente inútil, e às vezes venenosa, deixamos nos diálogos comuns e, principalmente, nos longos e eternos discursos da política ativista! Quantas vezes, no silêncio da reflexão tardia, não ficamos arrependidos, recordando o emprego inútil e perigoso de muitas palavras que deixamos partir, soltas ao vento? As palavras têm também seu Ativismo instintivo e deletério.
16 – Jesus nos mostra a filosofia Inativista, quanto à palavra, quando diz: “Seja o vosso falar sim, sim; não, não”. Ele clamava quanto à inutilidade da excessiva ação verbal. Lao-Tsé chega a dizer que “quem sabe, não fala, e quem fala, não sabe” … talvez pelo zelo oriental de nos conduzir ao silêncio contemplativo.
17 – Um dos pontos essenciais do Inativismo está na imperiosa necessidade da autoanálise, para o indivíduo dar início ao conhecimento de si mesmo. Não negamos a importância dos dizeres tão repetidos, colocados no pórtico do templo de Apolo, em Delfos: “Conhece-te a ti mesmo”. A frase de Delfos foi talvez a chave que nos fez abrir a porta à ideia que nos veio, como Inação Criadora. O que o Homem é, sem seu interior e sem sua força mística subjetiva?
18 – Quando nos autoanalisamos, tocamo-nos de Intuição, pelo simples ato da introspecção. A Intuição logo desperta, quando penetramos na Torre do Ser. A introspecção nos permite, pela autoanálise, descobrir mundos maravilhosos de ideias em nosso Eu Vital.
19 – Temos o direito de sermos nós mesmos, na Inação Criadora. Não será nesse universo introspectivo do Ser que os artistas, intuitivamente, encontram a essência da Arte? Claro que sim. O artista é introspectivo, por isso é místico. E o místico, mesmo que não se diga artista, em sonhos cria obras de arte. Achamos notáveis esses sonhadores que realizam, na subjetividade onírica, o que não conseguem objetivar em vigília. Que liberdade fantástica o Sonho oferece! Quantos ativistas dominadores do mundo tudo dariam para saber o que temos sonhado! …
20 – A fonte da Beleza que a Inação desperta é fundamentada na atitude mística do Ser. Interiormente todos nós, ligados a nosso Eu, encontramos Buda ou Cristo. As palavras de um ou de outro foram reveladas do mesmo manancial – fonte do segredo intuitivo da raça humana.
21 – Subjetivamente aspiramos, se renascidos espiritualmente da carne, a palmilhar a senda da filosofia budista ou cristã. Estes autênticos pensadores deram forma e roteiro aos princípios de libertação interior – que não se modificariam através das tramas da História. A liberdade interior nos propicia descobrir não só verdadeiros pensadores inativistas, mas também fulgurantes cultores dos princípios da Râja-Yoga – ou, se quisermos, religadores perfeitos do homem com seu resplandecente Eu, nessa yoga ou união voluntária e autoconsciente. Ambos mostraram os laços que devem ser desatados pelo desprendimento.